sexta-feira, 24 de abril de 2015

        Olá pessoal, tudo bom por aí? Então, atendendo a pedidos, essa postagem vai discorrer acerca de marcadores bioquímicos associados aos fatores de risco de se obter doenças cardiovasculares.
Como sabemos, as doenças de cunho cardiovascular se constituem em grandes responsáveis pela atual taxa mortalidade dos brasileiros (principalmente na região sudeste), são também uma das principais causas de internações prolongadas nos hospitais do país e a principal alocadora de recursos financeiros no que diz respeito a gastos hospitalares no Brasil (Ministério da Saúde, 2010). 
Com a mudança da dinâmica da vida do brasileiro e o aumento do poder de compra, principalmente das classes C e D, houve também uma alteração no quadro de doenças mais prevalentes na população do país. Agora, além das doenças infecto-parasitárias, o governo deve se preocupar e buscar meios de prevenir e tratar da melhor forma as doenças crônicas, dentre essas as cardiovasculares.
            Entre os fatores de risco de maior probabilidade para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares (DCV) estabelecidos, destacam-se o fumo, a hipertensão arterial, as dislipidemias e o diabetes mellitus. Tais fatores estão intrinsecamente relacionados a nossa boa e velha bioquímica e no decorrer desta e de outras postagens, constataremos esse fato; hoje, portanto, nos deteremos às dislipidemias. 
          Além dos marcadores de risco bioquímicos, há também os antropométricos, dos quais o IMC (Índice de Massa Córporea) merece destaque.  O Índice de Massa Corporal (IMC) (kg/m2) — acima de 25, que caracteriza o sobrepeso, está associado a maior risco de desenvolvimento de morbidades crônicas não transmissíveis, sendo este gradativo e contínuo. Entretanto, como os indivíduos diferem em relação à composição corporal e localização da gordura, o uso do IMC deve ser associado a medidas da distribuição de gordura, como forma de melhor predizer o risco.


FONTE: ESTÚDIO VIDA


 Os homens tendem a ter maior proporção de gordura abdominal, conferindo-lhes o chamado padrão masculino ou andróide de distribuição de gordura. Por outro lado, as mulheres tendem a ter maior quantidade de gordura na região glútea, apresentando o padrão feminino ou ginóide de distribuição de gordura corporal9. Este padrão pode ser avaliado pela razão entre a circunferência da cintura e circunferência do quadril, conhecido como razão cintura/quadril (RCQ), bem como pela razão cintura/altura (RCA) e circunferência da cintura. A RCQ e a circunferência da cintura (CC), são as medidas mais utilizadas para estimar a gordura abdominal que, por sua vez, relaciona-se à quantidade de tecido adiposo visceral.
Estudo epidemiológico mostrou que a obesidade central estava associada com a hipertensão arterial, importante fator de risco das doenças cardiovasculares. Da mesma forma, o excesso de gordura na região abdominal (adiposidade central) pode ter maior capacidade preditiva que a massa corporal total para o infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral.
Um ponto importante a ser mencionado neste momento é que os pontos de corte de RCQ - como preditor de doenças crônicas - mais utilizados para homens (>1,0; >0,95) e mulheres (>0,80; >0,80), baseiam-se em estudos epidemiológicos suecos e canadenses, que cá entre nós constituem uma população bem diferente do padrão brasileiro.
Em relação aos marcadores de riscos bioquímicos nas doenças cardiovasculares, destacaremos hoje a correlação entre os níveis de colesterol plasmático e as probabilidades de se desenvolver tal tipo de cronicidade. Essa relação é diretamente dependente das chamadas lipoproteínas, que se constituem de aglomerados de lipídios anfipáticos, triglicerídeos, colesteróis, ácidos graxos e proteínas especiais chamadas apolipoproteínas, dentre as lipoproteínas, destacaremos a LDL e HDL por seu papel fundamental no transporte de colesterol pelo corpo e, por conseguinte, no risco de doenças coronárias.
FONTE: TUA SAÚDE
FONTE:TUA SAÚDE
As LDL (lipoproteínas de baixa densidade) são ricas em ésteres de colesterol, e são a principal forma de distribuição de colesterol aos vários tecidos, onde é necessário para síntese de membranas e hormônios. As LDL são captadas pelas células mediante receptores de membrana especiais, que a célula produz à medida que sua necessidade de importar colesterol aumenta ou diminui. Já as HDL (lipoproteínas de alta densidade), originam-se basicamente do fígado e intestino na forma de bicamadas discoides de fosfolípides. No plasma, captam colesterol não esterificado e o incorporam em seu centro hidrofóbico, entregando-o aos hepatócitos para catabolismo. Agem portanto como “lixeiros” de colesterol. A concentração de HDL é inversamente relacionada à incidência de aterosclerose coronária, talvez refletindo sua eficiência em remover colesterol.
O desequilíbrio nesse mecanismo de transporte de colesterol pode acarretar o acúmulo prejudicial deste, gerando dislipidemias, fator de risco muito significativo na avaliação de riscos de doença cardiovascular, uma vez que a descompensação de lipídios pode gerar placas de ateromas e até mesmo interrupção do fluxo sanguíneo e infarto. 
REFERÊNCIAS:  Barata RCB. O desafio das doenças emergentes e a revalorização da epidemiologia descritiva. Rev Saúde Publica 1997; 31(5):531-7.
 Ministério da Saúde. Brasil. Informações em Saúde — Mortalidade. [online] [citado 2010 abr 4] Disponível em: http://www.saude.gov.br/inform/indica/indica 



sábado, 18 de abril de 2015

Hormônio BNP no diagnóstico de IC congestiva

A insuficiência cardíaca congestiva é uma condição grave na qual a quantidade de sangue que o coração é capaz de bombear a cada minuto (débito cardíaco) é insuficiente para suprir as necessidades de oxigênio e nutrientes de todo o organismo.
Alguns sinais e sintomas da insuficiência cardíaca podem ser: dispneia de esforço, ortopneia obrigatória,  edema dos membros inferiores, sensação de dolorimento ou peso no hipocôndrio direito.
Tradicionalmente, o diagnóstico da insuficiência cardíaca congestiva é feito com base na presença de determinados sinais e sintomas, caracterizando uma síndrome clínica. Em pacientes crônicos, ambulatoriais, o diagnóstico das descompensações cardíacas não é difícil. Entretanto, em pacientes idosos, que chegam à unidade de emergência com dispneia aguda, o diagnóstico nem sempre é fácil. Sinais e sintomas, nesses casos, podem não ser específicos o suficiente para fazer um diagnóstico rápido e acurado. A ecocardiografia, embora seja um bom método para o diagnóstico de disfunção sistólica do ventrículo esquerdo, pode não refletir uma condição aguda (Villacorta e cols., 2002).
Assim, surgiram estudos com a aplicação do peptídeo natriurético tipo-B na tentativa de diagnosticar a insuficiência cardíaca congestiva de modo eficaz.
O peptídeo natriurético tipo B é um hormônio composto por 39 aminoácidos em sua forma biologicamente ativa. É liberado, principalmente, pelos ventrículos cardíacos, em resposta a uma sobrecarga de pressão ou volume. Promovem diurese e vasodilatação (antagonizando o efeito vasoconstritor do sistema renina-angiotensina-aldosterona), estando aumentados em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva.

(Laboratório Oswaldo Cruz, 2014).

O valor do peptídeo natriurético tipo-B reside no seu elevado valor preditivo negativo (» 96%). (Beck da Silva e cols, 2003). No entanto, o peptídeo natriurético tipo-B vem se tornando: um teste de rastreamento para solicitações de ecocardiografia, independentemente da razão para o procedimento; uma ferramenta útil e confiável no diagnóstico e avaliação da severidade da insuficiência cardíaca na sala de emergência, inclusive em pacientes que chegam à unidade de emergência com dispneia aguda (Villacorta e cols, 2012); um potencial marcador para monitorização hemodinâmica em pacientes com insuficiência cardíaca severa; um marcador prognóstico em pacientes que sofreram um infarto agudo do miocárdio. (Beck da Silva e cols, 2003). 

BIBLIOGRAFIA:
Beck da Silva e cols. Peptídeo Natriurético Tipo-B e Doenças Cardiovasculares. Arq Bras Cardiol, volume 81 (nº 5), 529-34, 2003.
Laboratório Oswaldo Cruz. BNP - Peptídeo natriurético tipo B. Londrina. 2014. Disponível em: <http://www.oswaldocruz-lab.com.br/_2009_BNP.asp>
Villacorta e cols. Peptídeo natriurético tipo B no diagnóstico de ICC. Arq Bras Cardiol; 79: 564-8, 2002.


terça-feira, 7 de abril de 2015

Síndrome Coronariana Aguda – Caso Clínico de Urgência e Emergência

*Paciente, masculino, 59 anos, fumante há mais de 40 anos, hipertenso, obeso, diabético e tomando antidepressivos, procura o serviço de emergência por conta de dor torácica de forte intensidade, irradiando para membro superior esquerdo, de início súbito e há 1 hora; exame físico revela taquicardia, hipertensão e ansiedade; como proceder?
Após ter em mãos uma anamnese e um exame físico bem coletados com esse perfil descrito (dor torácica forte), é necessário que o serviço de saúde dê enfoque para descartar ou não o diagnóstico de síndrome coronariana aguda (SCA), doença cardiovascular fatal (acomete a circulação para o coração, causando desproporção na oferta/demanda de oxigênio e nutrientes para o tecido miocárdico), mais incidente em pessoas com idade avançada, história familiar, hipertensão arterial sistêmica, tabagismo, obesidade, dislipidemia e diabetes melito. No Brasil, as doenças cardiovasculares são as que mais matam por ano.
As diretrizes para o diagnóstico ou não de SCA preconizam uma anamnese bem feita, avaliando fatores de risco; exame físico, que é inespecífico para a SCA, mas pode apresentar informações para um diagnóstico diferencial (alguma doença não coronariana) e exames complementares: o eletrocardiograma (ECG) e exames bioquímicos de marcadores de injúria miocárdica.
De posse do ECG, a informação mais relevante é o segmento ST: caso perceba um supradesnível de ST, já é suficiente para tratar do paciente como Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) com administração imediata de trombolíticos; porém, caso não haja supra de ST, o diagnóstico fica aberto entre Isquemia Miocárdica (obstrução parcial) ou Angina Instável.
Dessa forma, os exames bioquímicos entram em cena para confirmar um diagnóstico. Há muitos biomarcadores de injúria celular miocárdica, mas, com o desenvolvimento dos recentes métodos ultrassensíveis para mensuração das troponinas cardíacas, tem sido possível detectar a lesão cardíaca dentro de duas horas, melhorando substancialmente o diagnóstico precoce do IAM, particularmente em pacientes com dor torácica recente.
As troponinas constituem um complexo de três proteínas isomorfas, as TnC, TnI e TnT. As duas últimas são usadas nesses exames por terem alta especificidade com o tecido cardíaco, já que os genes decodificadores delas nas células cardíacas são diferentes dos genes nas células musculares esqueléticas. Além disso, elas possuem, também, alta sensibilidade para detectar necrose miocárdica. Por isso, elas são consideradas os biomarcadores padrão ouro para diagnóstico e avaliação de risco em pacientes com SCA, e poderosos preditores de mortalidade e eventos isquêmicos recorrentes.
Para tratar, desses pacientes diagnosticados com SCA deve-se administrar precocemente ácido acetilsalicílico entre 200 e 300mg. Nitratos devem ser administrados para aliviar sinais e sintomas. Betabloqueadores podem ser administrados para reduzir a taxa de ruptura cardíaca, limitar o tamanho do infarto, melhorar a função cardíaca e diminuir a mortalidade precoce e tardia nos pacientes com IAM.  Outros fármacos são administrados seja para ações de antirremodelamento (iECA), seja antitrombóticos (clopidogrel, anticoagulantes).


REFERÊNCIAS