A cardiolipina é um fosfolipídio tetra-acil único
encontrado quase que exclusivamente na membrana mitocondrial interna. Essa substância
está relacionada com o funcionamento ótimo da maioria das enzimas envolvidas no
metabolismo energético, seja na estabilização da membrana, formação de
supercomplexos de proteínas, seja no funcionamento da cadeia respiratória. Por
isso, esse fosfolipídio é considerado o principal mediador do metabolismo
mitocondrial.
Enquanto isso, anestésicos locais(AL), como a bupivacaína, a levobupivacaína e a
ropivacaína, possuem em sua maioria um grupo aromático
(lipossolúvel, hidrofóbico) associado a um grupo amina (polar, hidrofílico),
agindo seletivamente nos canais de sódio, impedindo a neurotransmissão do
potencial de ação. Porém, foi constatada possível toxicidade sistêmica deles,
com foco em sua cardiotoxicidade.
Devido a limitações éticas, é difícil encontrar estudos
clínicos que possam esclarecer essa relação entre os AL e a cardiotoxicidade.
Porém, sabe-se, através de estudos em mitocôndrias in vitro, que os anestésicos locais apresentam diversos efeitos
na fosforilação oxidativa, dependendo de sua estrutura química, incluindo a
inibição do transporte de elétrons e ATPase, afetando o transporte de íons, como o Ca2+, mostrando relações entre a
lipossolubilidade do AL e seu efeito cardiotóxico.
Além disso, estudos em cultura de células mostraram que
os AL alcançam a mitocôndria, alterando seus potenciais transmembranas,
acarretando em um impacto na homeostasia do Ca2+,
induzindo efeitos inotrópicos (força de contração) e lusitrópicos negativos.
Esses achados através desses estudos fizeram com que a
teoria da interação entre esses AL e a cardiolipina seja a explicação para essa
cardiotoxicidade. Além disso, o
estudo in vitro observou
que a bupivacaína interage seletivamente com pequenos lipossomos biomiméticos
unilamelar contendo cardiolipina, destruindo sua integridade e reforçando que
essa interação pode ser o mecanismo responsável pela cardiotoxicidade desse fármaco.
Para
finalizar, esses estudos são importantes para melhor conhecimento farmacológico
desses anestésicos, que, por sua vez, avançam em medidas para a reanimação do
colapso cardíaco induzido por eles.
E aí galera, o que acharam da
postagem? Já há algum avanço nessas medidas com relação à reanimação? Há algum
comentário sobre a estrutura das substâncias? Até a próxima!
REFERÊNCIAS:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-70942010000400013&script=sci_arttext, acessado em 7 de junho de 2015.
http://grofsc.net/wp/wp-content/uploads/2013/05/Farmacologia-dos-anestesicos-locais.pdf, acessado em 7 de junho de 2015.
Achei algo bem legal: Os anestésicos locais são amplamente utilizados na prevenção ou na reversão de dor aguda e no tratamento de dor
ResponderExcluircrônica. A reação de cardiotoxicidade induzida pelos anestésicos locais é um evento acidental sem terapia farmacológica, exceto a infusão de
intralípides relatados recentemente cujo mecanismo de ação ainda não é bem compreendido, ou seja, já existem alguns meios de contornar esse efeito colateral. (http://www.scielo.br/pdf/rba/v60n4/v60n4a13.pdf)
E achei outra coisa bem legal :o
A Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAF) caracteriza-se, principalmente, pelas manifestações clínicas e laboratoriais de trombose arterial e/ou venosa recorrentes, abortamentos de repetição e trombocitopenia, além de anemia hemolítica auto-imune (AHAI), alterações cardíacas, neurológicas e cutâneas.
Em 1963, Bowie et al. observaram que alguns pacientes com LES e lúpus anticoagulante apresentavam trombose ao invés de sangramento, o que era esperado, pois os testes de coagulação estavam prolongados. Alguns desses pacientes também apresentavam reações falso-positivas para o teste do VDRL (Venereal Disease Reference Laboratory) (4) para lúes. O componente reativo do antígeno VDRL, que é uma mistura complexa de lipídios, é um fosfolipídeo obtido a partir do músculo cardíaco, a cardiolipina. [tá vendo aí, onde a cardiolipina foi parar?! que interessante!]
Em 1983, um teste de fase sólida foi desenvolvido para medir diretamente os níveis de anticorpos de anticardiolipina, a partir de amostras de plasma ou de soro(5).
Em 1983, Harris et al.(6) foram capazes de definir a síndrome clínica associada aos anticorpos de anticardiolipina, caracterizada por: trombose, trombocitopenia e perda fetal recorrente. Embora o trabalho original tenha sido realizado identificando somente a cardiolipina, existe uma reatividade cruzada desses anticorpos com outros fosfolipídios, carregados negativamente (aniônicos - fosfatidil inositol difosfato, esfingomielinas, esfingocerebrosídeos, etc.), permitindo denominar esta patologia de Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAF)(5,6) (de: http://revista.fmrp.usp.br/1998/vol31n2/sindrome_anticorpo_antifosfolipide.pdf)
GRUPO B
ResponderExcluirOi pessoal!
Então, o uso de anestésicos locais pode sim causar efeitos sistêmicos, entre eles cardiotóxicos. Me perguntei sobre a necessidade obrigatória do uso de anestésico em uma situação de emergência em pacientes cardiopatas ,por exemplo, onde os efeitos podem ser ainda mais graves, e encontrei que a associação a vasoconstritores(epinefrina) pode ser eficaz em alguns casos de hipertensão controlada, entretanto não deve ser administrados com fármacos anti-hipertensivos beta- bloqueadores diuréticos não
caliuréticos, pois estes pacientes podem estar mais susceptíveis
a possíveis precipitações de episódios hipertensivos
motivados por estes vasoconstritores. Até a próxima!
REFERÊNCIAS
http://hurevista.ufjf.emnuvens.com.br/hurevista/article/viewFile/879/333